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OLHAR DE FOGO - Conto

Na madrugada fria, algo a despertou. Não soube ao certo o que a fez sobressaltar-se. Sentou-se na cama, assustada, olhou através da janela do quarto e, aguçando os ouvidos, nada ouviu além do ruído forte dos trovões e da chuva que caia, abundantemente lá fora, onde a escuridão predominava na paisagem. Mesmo assim, não conseguiu mais dormir, quase certa de que estava em perigo.


Horas se passaram e ela continuou sentada na cama, abraçada às próprias pernas, só esperando o dia amanhecer. Mas antes que o sol despontasse no horizonte, ouviu um barulho estranho, vindo de longe, fazendo-a levantar-se e dirigir-se à porta de entrada da casa, automaticamente, como se uma força estranha a estivesse manipulando, como se não soubesse o que estava fazendo. Girou a maçaneta, abriu a porta e saiu.


Logo, a chuva caiu pesadamente sobre ela, encharcando completamente sua roupa de dormir, machucando seu rosto com pingos grossos e gelados. Os pés, descalços na relva, estavam como que pisando em nuvens, adormecidos pelo transe, sem estímulos sensoriais, fazendo-a andar a esmo no meio do mato íngreme e assustador.

Parou ao chegar perto do rio, ouvindo o barulho da água e sentindo a terra firme e molhada debaixo dos pés. A chuva diminuiu aos poucos, nuvens carregadas dando lugar ao céu iluminado pela lua cheia.


Olhou ao seu redor, atenta pela primeira vez, desde que saíra de casa. A primeira coisa que chamou a atenção da moça foi uma pequena claridade a alguns metros dela. Uma luz brilhante, direcionada para o nada, iluminava as folhas molhadas das árvores. Adiantou-se, chegou até ela e a pegou, uma pequena luminária de mão, caída e acesa no chão.


Assustada e então consciente de onde estava, a garota Iluminou o caminho percorrido, começando a voltar por onde já havia passado. Ouviu passos atrás de si e parou de andar. Imóvel, ouviu as folhas estalando no chão, devagar. Recomeçou a caminhar sem olhar para trás. O barulho continuou ainda mais forte, enquanto ela apressou o passo.



Desesperando-se, correu cada vez mais rápido, mas o que a seguiu aumentou a velocidade, fazendo-a olhar para trás ao senti-lo perto demais. Então o viu, um enorme cão negro, com o tamanho de um urso e uma mandíbula afiada na boca entreaberta. E o mais assustador é que tinha os olhos vermelhos como fogo.


Não pode evitar o grito que saiu de sua garganta diante daquela visão. Tropeçou em seus próprios pés e caiu, para levantar-se rapidamente e recomeçar a correr. O animal estava cada vez mais perto, uivando horrorosamente à lua cheia, cada vez que ela se escondia por detrás das nuvens.


Tropeçou e caiu outra vez no chão forrado de folhas molhadas. Quando achou que estava perdida, prestes a ser pega, arranhada, devorada pelo gigante cão negro, fechou os olhos, sentindo o bafo dele em seu rosto, o hálito fétido e os grunhidos deixando-a imóvel, estirada no solo, de barriga para baixo até que não ouviu mais nada.


De repente, ele sumiu.


Ela se levantou, devagar, olhando à sua volta, sem reconhecer o ambiente em que estava. Com a luminária ainda em mãos, procurou vestígios para tentar encontrar o caminho de volta para casa e recomeçou a andar. Os pés descalços pisaram em uma poça com um líquido espesso que não parecia ser água. Parecia ser... Sangue! 
Chocada e com muito medo, iluminou o chão onde pisava e viu ao lado, as partes de um corpo estraçalhado pelas garras do animal.


Gritou com força, até que sentiu alguém tocar atrás de seus ombros com as mãos, virando-a para si.


A lua reapareceu e iluminou-o. Um homem alto e musculoso, envolto num manto com o capuz escondendo seu semblante e por alguns instantes, de cabeça baixa, enquanto ela se debatia e batia nele com os punhos serrados, tentando escapar de seus pulsos fortes.



Mas quando ele finalmente encarou a moça, olhando-a diretamente com seus olhos vermelhos como fogo, com o poder da hipnose em sua mente, ela acordou sobressaltada. Estava de volta à sua cama, em seu quarto, molhada de suor, com o livro “A Maldição da Lua Cheia” em seu peito.


Relembrando o pesadelo que tivera, aliviou-se percebendo que fora um sonho estranho e assustador. Mas, um sonho. Vendo que faltavam algumas horas para amanhecer, aconchegou-se na cama e adormeceu novamente.


Quando acordou de manhã, ouvindo batidas estranhas na porta, levantou-se e vestiu o roupão para abri-la. Para sua surpresa, cinco cãezinhos olhavam para ela de dentro de uma cesta de vime. Todos com olhos cor de fogo. 




Katia Gobbi

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Música para Reik

Caráter

Confio em pessoas que falam em transformação e mostram boas atitudes. Que mostram o potencial que tem em exemplos e não apenas palavras. Que se beneficiam de seus feitos, não de defeitos alheios. Observo muito bem as pessoas por que são as peças que elas usam no jogo da vida que mostram seu verdadeiro caráter.
KatiaGobbi